No dia 11 de Novembro de 2023 completou 10 anos que deixamos o Brasil.

Sento aqui e releio o texto que escrevi lá em 2013 e uau!! Vou rolando a tela passando rapidamente pelos posts antigos e vou relembrando vários momentos, aprendizados e fases pelas quais passamos aqui nos EUA nesta última década.

Bate aquela culpinha por não ter escrito mais e ter deixado mais registros por aqui. Me fez lembrar de momentos como “este país é perfeito” e outros “quero ir embora daqui”.

Fechamentos de ciclos, como datas assim redondinhas, são sempre uma boa oportunidade para fazermos uma análise de tudo o que passamos, as pernas e os ganhos. E uma grande conquista de 2023 e que foi resultado desta longa jornada e que se concretizou neste marco de 10 anos é que agora somos oficialmente cidadãos americanos.

Para quem não conhece a nossa história, chegamos aqui em 2013 com visto de trabalho H1b/H4, após alguns anos nos tornamos Residentes Permanentes (o tão sonhado Green card) e agora em 2023 nos naturalizamos e temos o tão desejado passaporte americano.

Na realidade, pouca coisa muda na rotina diária para quem tem green card para quem tem cidadania americana. A maior diferença na prática é que agora temos o direito ao voto e não temos mais um limite de tempo determinado que podemos ficar ausente do solo americano. E claro, agora é rapidinho passar pela imigração americana quando voltamos de viagem pois podemos entrar na fila de cidadãos americanos.

Sobre o processo, realizamos tudo por conta própria, sem intermediários. Pesquisei como funcionava, juntei os documentos necessários, fiz a aplicação online e estudei a história e a Constituição americana para passar pela prova e entrevista no USCIS.

Mais detalhes sobre o nosso processo de naturalizacao neste post do blog https://morarnoseua.com.br/2024/09/16/cidadania-americana/

Passar pelo processo para a obtenção da cidadania americana e pela cerimônia de naturalização foi muito importante simbolicamente para nós como família e nos faz agora sentirmos mais pertencentes a este país que escolhemos para morar, com os mesmos direitos e deveres, onde trabalhamos e pagamos impostos e cuja cultura faz parte da vida principalmente dos meu filhos que estão crescendo aqui.

Outra conquista destes 10 anos foi oferecer aos meus filhos a oportunidade de crescerem em uma ambiente mais seguro (sem esquecer que violência e gente maluca também se encontra por aqui), serem fluentes em 2 idiomas e por poder proporcionar para eles uma visão de mundo mais abrangente.

Por falar nas crianças, no quesito escola já estou expert em Elementary School pois já estou na minha segunda rodada na educação primária. Já passei pelos 3 anos da Middle School com o meu mais velho, o que foi um pouco desafiador no começo pois a estrutura escolar é bem diferente do Brasil.

Agora sou mãe de um aluno de High school e tem sido um outro grande aprendizado para mim em entender o funcionamento do sistema escolar americano. São matérias obrigatórias, matérias eletivas, créditos, esportes, clubes, SATs, ACTs…enfim, tenho que fazer um post apenas sobre este assunto. Mas na real, deixei um pouco de lado a necessidade de querer entender como tudo funciona e passei a responsabilidade para o filho mesmo.

Aprendi e evolui muito como pessoa, tentei coisas novas, sai várias vezes da minha zona de conforto. tive meus altos e baixos.

Fiquei mais seletiva nos últimos anos. Tento só deixar entrar na minha vida apenas o que me faz bem e me acrescenta positivamente, e isto vale para situações, coisas e pessoas.

Esta mudança provavelmente aconteceria em qualquer lugar em que eu estivesse morando, afinal isso se chama idade e experiência de vida, mas sair da zona de conforto que eu tinha no Brasil com certeza serviu como um empurrão para este processo.

Morar todo este tempo fora, longe de uma rede de apoio familiar e próxima me fez dar um peso de importância diferente para as coisas e situações e também me tornou uma pessoa mais aberta para o novo e adaptável.

Hoje eu não teria problema em fazer as malas e refazer a vida em qualquer outro lugar do mundo, só não vale me mandar para outro lugar gelado onde faz mais frio do que aqui em Michigan.

Mas como esta sendo morar todo este tempo especificamente aqui nos EUA, que o país sonho de viver de muitos brasileiros? afinal morar 10 anos é diferente de morar 1 ou 2 anos aqui (a famosa fase do namoro)

Moro no país do consumo, que lá nos primeiros anos nos conquista com suas lojas, produtos, facilidades, carros e cidades que saíram de filmes da sessão da tarde.

Um país na maior parte do tempo seguro e com leis que funcionam – em grande parte sim, mas tem espaço para discussão.

Um lugar que de maneira geral as pessoas são educadas e respeitam o espaço do outro – lembrando que gente legal e grossa existe em todos os lugares, e gente sem noção também.

Um lugar de escolas públicas fantásticas – depende de onde voce mora, tem lugares aqui com escolas ruins também.

Porém esta imagem perfeitinha dos EUA que muitos de nós brasileiros temos quando somos residentes do Brasil e que é construída nas nossas cabeças através dos filmes americanos, das viagens de férias para cá, dos depoimentos superficiais de influenciers de Instagram e até mesmo por brasileiros que moraram por aqui por um curto período de tempo, não é o cotidiano da vida real por aqui, pois tudo entra na rotina comum da vida a partir do momento em que você mora por muito tempo em um lugar e problemas vão ter em todos os lugares.

É óbvio que eu gosto de morar em uma casa legal, em um bairro seguro onde os meus filhos podem frequentar uma boa escola e ter um carro bacana na garagem.

Sou grata por termos conquistado uma vida tranquila e confortável aqui nos EUA, através de muito trabalho e pela coragem que tivemos há 10 anos atrás ao deixar uma vida também estabilizada e boa no Brasil para chegar aqui com apenas 6 malas. Sim, sei que somos privilegiados pelas oportunidades que tivemos mas isso não me impede de discordar de muitas coisas referente a cultura e aos valores americanos.

Hoje, após dez anos morando aqui, sou muito mais crítica e procuro pensar fora da caixinha no que diz respeito a vida por aqui e não coloco os Estados Unidos em um pedestal, pois rola muita coisa errada por aqui tambem.

Dez anos morando nos Estados Unidos também significam dez anos longe do Brasil e durante todos estes anos, a minha visão sobre o Brasil mudou várias vezes, mas hoje posso dizer que eu tenho um carinho muito especial pelo Brasil, e mesmo sendo agora uma cidadã americana, sou antes de tudo brasileira e com muito orgulho.

O Brasil representa o lugar onde eu nasci e vivi a maior parte da minha vida e onde momentos importantes e felizes aconteceram. É o lugar no mundo onde pessoas muito especias para mim moram. É onde eu me reencontro falando portugues, é o lugar onde eu entendo as piadas, onde tem comida boa, lugares que me remetem a momentos únicos da minha vida.

É o lugar onde esta a casa dos meus pais e a nova geração de crianças da minha familia! Como não gostar deste lugar? Não dizem que são as pessoas que fazem os lugares? Então este é o meu pedacinho de mundo que eu chamo de Brasil, a minha bolha no meio do caos.

É claro que o Brasil tem inúmeros problemas, alguns muito sérios e revoltantes. Mas a relação que eu tenho com o Brasil hoje é parecida com a que os brasileiros que residem no Brasil tem com a vida no exterior. É um caso de bloqueio da parte ruim e foco apenas na parte boa, pois nos últimos 10 anos eu só estive de férias no Brasil.

A minha relação com o Brasil quando eu estou lá é diferente da relação que a minha familia e amigos que moram e estão inseridos na rotina da vida do Brasil tem com o país, e eu sei que eu só pego a parte boa.

As vezes aqui no blog aparece a pergunta se eu tenho vontade de voltar a morar no Brasil.

Depois de 10 anos morando fora posso dizer que sim, tenho VONTADE, sendo o principal motivo proporcionar aos meus filhos o convívio com os avós, que estão envelhecendo, com os primos, o contato com a cultura e o carisma que o brasileiro tem e por eu ter hoje a possibilidade de manter uma vida em um padrão bom por lá. Porém, infelizmente na realidade atual do país, agora não seria o momento ideal para voltar a morar no Brasil.

Uma outra pergunta é se eu me adaptaria se tivesse que voltar a morar no Brasil?

Acho que sim, pois ja morei lá, sei como a música toca e me adapto fácil as mudanças, mas não quer dizer que seria uma adaptação tranquila, principalmente com relação a segurança. Ir de férias ao Brasil é uma coisa, morar é outra dinâmica, mas sem passar pela experiência de fazer este caminho inverso eu não tenho como ter certeza se daria certo.

Vale lembrar que este é um blog pessoal e esta é a minha realidade e a minha opnião. É claro que existem pessoas que tiveram uma vida ou momentos mais difíceis no Brasil e que ao chegarem aqui nos EUA tiveram mais oportunidades, a vida melhorou muito e são muito mais felizes aqui e por esta razão nem pensam em voltar ao Brasil. Ou simplesmente porque se identificam mais com o estilo de vida americano do que com o brasileiro.

Cada pessoa tem a sua história, que é única e por isso não tem o certo ou o errado. Mas, independente da opinião de terceiros, uma coisa é fato, se você tiver vontade e surgir uma oportunidade de morar em um outro país, vá pois é uma experiência de vida única! Dá medo? Claro que dá, já é dificil mudar de casa, de cidade, quanto mais mudar de país!

Sair da zona de conforto não é gostoso, vai ter perrengue? Sim vai ter perrengue, mas o resultado é engrandecedor demais e todos deveriam ter a oportunidade de passar por isso pelo menos uma vez na vida, mesmo que por um período pequeno. A nossa percepção de mundo muda, nossas lentes mudam. Pode não dar certo? Sim, tem chance de dar tudo errado, de você não se adaptar ou não gostar, mas mesmo nestes casos toda a experiência será válida.

Abraços, Juliana

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